Saturday, August 30, 2014

Boom Festival 2014



Olá! Sim, sobrevivemos ao Boom para contar a história. No entanto, não temos notícias muito animadoras. Das trezentas e vinte e quatro mil conversas que tivemos com nómadas, coelhos sem cartola e hippies de algibeira, conseguimos gravar apenas uma. Ironicamente, com a única pessoa que não achou piada ao Boom! Sim, a personagem existe e nós conseguimos - por acidente - o exclusivo.
Entre a casa da árvore e a pizzaria, lá descansava ele, absorto nos seus pensamentos:

Entrevistador: Olá, pareces um pouco abatido.

Não-Boomer: Eh pa, já viste o filha da puta do calor que está?

Entrevistador: Sim, está calor é um facto. Mas podes sempre ir até ao lago refrescar-te.

Não-Boomer: Mano, acabei de ir lá, vi mais bacanos com o badalo a dar a dar, do que sinos da igreja a tocar no aniversário do Mosteiro dos Jerónimos.

Entrevistador: Mas tens alguma coisa contra o nudismo?

Não-Boomer: Tenho a favor, mas acordar de manhã para dar um mergulho e dares de caras com uma imitação do John Lenon e da Yoko Ono em semana de núpcias todos nus... é uma beka marado.

Entrevistador: Ok, o que é que te trouxe cá?

Não-Boomer: Um Opel Corsa.

Entrevistador: Não.. Qual o motivo de teres vindo a este festival?

Não-Boomer: Vim com o pessoal. A ideia de irmos daqui directos para o Neopop agrada-me. 

Entrevistador: Directo como assim?

Não-Boomer: Direto meu! Jarda é jarda!

Entrevistador: Muito bem. Como classificas o ambiente deste festival?

Não-Boomer: Tranquilo. Tranquilo de mais até se queres saber. Ainda não vi um mitra digno de seu nome.

Entrevistador: E isso é mau?

Não-Boomer: Claro que sim. Festa que é festa tem que ter máfia.

Entrevistador: Ok. Mas noto-te um pouco descontextualizado, ou seja, a ideia de partilha, união e amor, não parece ter-te contagiado.

Não-Boomer: Companheiro: dormir que é bom tá quieto. Estou a transpirar por sítios do meu corpo que eu nem sabia que tinham um buraco. Vou à pista, vejo metade das pessoas a dançar efusivamente e fortemente... fora do compasso. Só há cerveja em lata. Tenho que andar trinta minutos até à puta da tenda. Ah e aparentemente sou o único gajo desta cena que não meteu um ácido.

Entrevistador: Ok.. Mas decerto já te aconteceu algo positivo entretanto?

Não-Boomer: Sim, hoje toca aí Extrawelt, finalmente vou ouvir música.

Entrevistador: Não gostas de trance?

Não-Boomer: Mano, um festival que tem como um dos cabeças de cartaz um bacano que é detetive de animais num filme com o Jim Carrey.. Acho que tá falado.

Entrevistador: Já conheceste pessoas de outros países?

Não-Boomer: Pensei que fosses francês, com esses maneirismos todos.

Entrevistador: Ok, sem ser eu, alguém?

Não-Boomer: Ya falei ali com um sócio há pouco. Saiu-se com uma fixe.

Entrevistador: Como assim?

Não-Boomer: Olhou para mim com um ar bué profundo e disse: "My friend, we will always be made of darkness and light, fear and courage, dreams and nightmares and nonetheless, love and hate. The way we choose to amplify these feelings in our daily lives, dictates how often we will walk, on the wild side"

Entrevistador: Parece interessante sim. Era de que país?

Não-Boomer: Ele disse que era turco, mas já vi um sócio parecido lá no snooker do Cacém. Tou na dúvida.

Entrevistador: Repara ali. Há um neon que diz "We are love" Parece-te fixe?

Não-Boomer: Só quando estiver aceso à noite é que te posso dizer.

Entrevistador: Certo, mas a frase em si, achas que faz sentido?

Não-Boomer: Não me identifico com a cena sócio. Não tou a sentir love nenhum, nem feeling nenhum, nem experiência mega beca beca que me eleva a um estado gasoso da cona da mãe a sete. Desculpa lá a frontalidade, mas é mesmo assim.

Entrevistador: Acho estranho seres a única pessoa que não se sente contagiada com este ambiente único.

Não-Boomer: Já somos dois, mas é na boa. Aprendi a dançar trance hoje de manhã e tudo.

Entrevistador: E que tal?

Não-Boomer: O bassline é sempre igual, portanto, tranquilo.

Entrevistador: Dançaste com alguma rapariga?

Não-Boomer: Sim, foi uma miuda que me ensinou uns moves.

Entrevistador: E nem nesse momento, sentiste o espírito do 'love' que te falava?

Não-Boomer: Nepia, senti mesmo vontade de lhe dar uns beijinhos. Assim fiz.

Entrevistador: Então, dar uns beijinhos é 'love'.

Não-Boomer: Só se for na tua terra primo. 

Entrevistador: Para finalizar, vais voltar?

Não-Boomer: Vai-te embora azar.

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