Como calculam todos e porque não somos (nem pouco, mais ou
menos) criativas criaturas, o nome do blog de algum sítio teve que vir. Remonta
a história a um longíquo dia de Setembro.
Em primeiro lugar, e
para os leitores mais calmos, vamos então explicar no que é que consiste, um
after do after. O after do after é um conceito relativamente recente para a
humanidade: está principalmente associado à música eletrónica e serve
basicamente para todos os que não ficaram satisfeitos com o after por algum
motivo, terem uma nova oportunidade para se redimirem. É como aquela bola extra
do totoloto, ou seja, existe, mas nunca conhecemos ninguém que tivesse ganho o
prémio com aquilo. Este blog desaconselha vivamente os seus leitores a
frequenterem tais locais e se o fizerem, estão por vossa conta e risco.
De qualquer forma, naquele mítico dia, o perigosíssimo
Iglesias do Techno e o chefe de operações Almirante Cascavel tinham-se
deslocado a um after. Findo o período de festividades desse evento, foram
convidados para fazer parte de um tal after do after na casa de uma senhora a
que vamos chamar de Bo Derek (sim, entrevista para breve, não tem sido fácil
por motivos de agenda, falar com a sedutora personagem).
O Almirante Cascavel e o Iglesias do Techno têm uma
particularidade que vamos agora revelar: possuem ambos, uma dificuldade imensa
em fazer-se deslocar pelos seus próprios meios até determinada morada, sem
demorarem pelo menos, duas horas a lá chegar. Mesmo que essa distância sejam
apenas de 10km. Relembramos a propósito deste curioso facto, uma viagem destas
duas peças, do SuperBock SuperRock no Meco até Lisboa, que durou sensivelmente
três horas e que incluiu a visita a várias zonas industriais de Palmela e na
qual conseguiram inclusivé, circular com o veículo ao lado da A2 (sim, aqueles
caminhos de terra batida onde também passam tratores e que se conseguem ver a
partir da estrada principal). Voltando atrás, tendo ficado o convite feito,
“Sim, sim, já lá passamos”. Começa a negociação entre os dois:
Almirante: Como é que é, vamos lá?
Iglesias: Não sei.. já é um bocado tarde.
Almirante: Pa ya.. mas olha, perdido por um..
Iglesias: Não sei..
Almirante: Vamos só lá beber um copo.
Iglesias: Andamos só a beber um copo desde a uma da manhã.
Almirante: Sabes onde é a casa?
Iglesias: Já lá fui uma vez, mas já sabes como é que é.
Almirante: Ui..
Lá foram. Apesar de ser domingo e a hora ser tardia, ambos
acharam estranho o movimento nas ruas ser tão significativo. O Almirante
Cascavel lá se lembrou que era dia de eleições autárquicas. Ao mesmo tempo e
quando regressou daquele pensamento, reparou que o Iglesias do Techno praticava
uma condução um tanto ou quanto intempestiva, numa rua de Lisboa onde os peões
abundavam.
Almirante: Xavalo, anda lá mais devagar, que isto matar um
velhote em dia de eleições.. Imagina o trabalhinho.
Iglesias: Sim, seria complicado. Para além de homícidio,
podíamos ser acusados de obstrução ao voto.
Enfim.
Corrigida a condução mais agressiva, a sina cumpriu-se e
demoraram duas horas a percorrer um caminho semelhante ao que a Dona Maria do
Céu leva da sua casa até à padaria mais próxima. Nem tinha piada se fosse de outra forma. Chegados ao after do after, o público
compunha-se então, por um conhecido DJ da praça, a estonteante Bo Derek, a sua
inseparável e não menos intensa amiga Killer Shadow (mais uma personagem), o
distinto Almirante Cascavel e o Iglesias do Techno no seu conhecido registo de
Faca Afiada. O espaço era interessante e qual surpresa, para além de comida,
cigarros e bebida suficientes para alimentar um regimento, a casa tinha um sistema de som
que deixava a segunda pista do Berghain a um canto. Enquanto a Killer Shadow e
o conhecido DJ se entretiam com experiências auditivas que tinham sido chão que
deu uvas, sempre solícito, o grandioso Iglesias do Techno tentou colocar o
complexo sistema de som a funcionar.
Vinte minutos volvidos, ainda não havia som. Questionado
sobre o possível problema, o Iglesias murmurou alguns termos técnicos o que
levou o conhecido DJ a puxar dos galardões e a intervir. Outros vinte minutos
depois e agora com dois DJ’s a tentar colocar o som a funcionar, adivinhem lá:
ainda não havia som. A dada altura e no auge daquilo que já foi considerado um
setup do inferno, já não se conseguia distinguir bem o portátil e restante
parafernália tecnológica daquilo que eram as alegadas pernas, mãos e braços dos
intervenientes.
Nisto tinham-se passado cerca de hora e meia e música, nada.
Vencidos pelo cansaço ambos os DJ’s chegaram a uma académica conclusão: falta
um cabo.
No momento seguinte, Bo Derek, do alto do seu irresistível
charme, coloca as duas mãos nos ombros do Almirante Cascavel. Segurando na
cintura de Bo Derek, pensou o Almirante Cascavel, “Vá lá, não há som, mas pelo
menos temos festa”. Enganou-se. Com um ar muito sério e aproximando os seus
lábios do ouvido do Almirante Cascavel, Bo Derek suspirou baixinho: “Beaten..
by Cables”.
(Baseado em factos verídicos)