O blog Beaten by Cables descobriu as viagens no tempo. Fomos até Lisboa. Corria o ano de 2145. Uma equipa de sociólogos descobre debaixo de um prédio um servidor do Facebook. Milhares de milhões de dados são analisados e chegam-se a múltiplas conclusões, que agora partilhamos convosco:
- algumas pessoas tinham uma vontade terrível de colocar um like num post de alguém, mas como não queriam ceder, não o faziam, nem sob tortura; contudo, mantinham a ligação virtual com essa mesma pessoa (?!)
- algumas pessoas perdiam mesmo a cabeça e eliminavam outras pessoas da sua lista de amigos; fazer uma limpeza ao Facebook tornou-se numa espécie de revitalização espiritual
- o Facebook estimulava a criatividade emocional: as pessoas faziam posts sobre a sua felicidade e/ou tristeza de forma subliminar, de maneira a que a sua lista de amigos, se interrogasse ligeiramente sobre o que raio se passava
- por vezes, a coisa ficava mesmo subliminar e o desabafo seguia via imagem abstracta
- existia também uma versão muito interessante, em formato de frase feita, do género: “Só faz falta quem cá está” com flores e ramalhetes de mau gosto a acompanhar a imagem
- o critério de adicionar amigos no Facebook era igualmente complexo, existindo uma diversidade imensa de perfis nesta área (adicionar só pessoas que conheciam bem, adicionar só pessoas que conheciam bem ou qualquer pessoa do género feminino, adicionar só pessoas que conheciam bem ou qualquer pessoa do género masculino, etc...)
- a gestão das imagens pessoais era também extraordinariamente complexa: enquanto antes se rasgavam fotos ou eliminava-se fisicamente parte das últimas, a prática a partir de dada altura, era aplicada da mesma forma com “um simples clique” (slogan bastante popular à época). Por outro lado, era também possível avaliar o grau de “rameirice” através da ousadia que determinadas fotos ofereciam
- a colocação de imagens de comida (já cozinhada) era igualmente,muito popular
- o mesmo se aplicava à localização geográfica (independentemente do seu grau de interesse; ex: “a sentir-se entusiasmado em - Café do Chico da Buraca”)
- os fenómenos desportivos eram alvo de superior atenção e escalpelização (?!)
- o sistema de likes, que aferia o grau de popularidade de determinado post, ajudava os utilizadores a irem melhorando a qualidade dos seus conteúdos
- bebés, crianças e animais, estavam no topo da lista em termos de likes
- a sociedade, a política, a filosofia, a psicologia, a literatura e outros temas idênticos, eram considerados temas aborrecidos e como tal estavam no fundo da lista em termos de likes
- os comentários nas páginas de Facebook da comunicação social eram muito populares também; por outro lado, conseguimos através desses espaços perceber, o baixo nível de QI de milhares de utilizadores da rede social
- algumas pessoas, em eterna negação, e com um registo de entradas bi-diárias no Facebook, continuavam a assegurar, que não ligavam àquilo. Ironicamente partilhavam a coisa no Facebook
- o chat estava dividido entre as pessoas com quem muito se falava e as com quem menos se falava (divididas por um pequeno tracejado na barra do chat); no caso de desgostos amorosos, encontrámos uma correlação interessante na passagem “daquela” pessoa da parte de cima para a parte de baixo do chat, coincidindo com o momento em que na vida real se dava efectivamente, menos importância à “tal” pessoa
- estavam também em voga os estilos de vida saudáveis, sendo partilhadas imagens de copos com uma mistela – de cor esverdeada normalmente - e as respectivas instruções para o mundo a partir daquele momento, ser melhor (e mais verde possivelmente)
- muitas pessoas acreditavam piamente que alguém em sofrimento no mundo, ia mesmo receber dois cêntimos por aquele post ser partilhado
- muitas outras acreditavam que mesmo que a história fosse real, os dois cêntimos iam adiantar fosse o que fosse
- os rumores patéticos eram igualmente populares: a mudança de cor do Facebook, o Facebook passar a ser pago ou até questões sobre a privacidade dos utilizadores eram temas tratados com seriedade e reverência em muitos perfis; as instruções para tal acontecer ou não acontecer, eram em muitos casos, seguidas à risca (e seguidos de um qualquer vírus também)
- esta época marcou também o início da encriptação amorosa: símbolos como <3 ou * começaram a fazer parte do quotidiano e a sintetizar ferozmente as relações em termos linguísticos (ou crípticos para o caso)
- o mesmo se passou com as expressões faciais em forma de texto: tudo começou com um simples :) ou :( evoluindo vertiginosamente para algo como xD, :3 ou o complexo >:O
- o mesmo aconteceu com a linguagem escrita: a título de exemplo, sabes passou a ser “sbs”, como é que é passou a "mékie" e a letra S foi lentamente substituída pelo X (goxto de ti, xei lá e por aí fora)
- aparentemente, os interesses pessoais de cada indivíduo, eram infindáveis: em média, cada utilizador de Facebook, gostava em 2014, de aproximadamente, 2.500 páginas distintas
- a dada altura, o Facebook introduziu uma função que permitia ao utilizador não só gostar do post, mas também dos comentários lá inseridos; ideal para as situações em que não se sabia o que responder, mas ficava mal não fazer like no comentário de dada pessoa. O equivalente social ao “fazer sala” da época, quando se visitava um amigo ou familiar, só porque tinha mesmo que ser
- a natureza dos convites para eventos foi igualmente adulterada: a regra social de ser convidado para dado evento, implicava agora custos substanciais, ou seja, era um convite, mas na verdade era uma forma encapotada de fazer negócio; por outro lado, dizer que "talvez" se ia a um evento era agora encarado de forma natural e não parecia mal
Citando uma frase anglo-saxónica daquele tempo: “We have come a long way, haven’t we?”
PS: Para o próximo fim-de-semana recomendamos: Iglesias do Techno em grande estilo no Bairrazza no Cais do Sodré; de seguida podem dar um pulo ao Lux para ver o grande Chez Damier; no dia seguinte o Europa Sunrise recebe uma festa da LX Music, onde poderão ver ao vivo e a cores, o talentoso, Troy Pierce. Não se estraguem!
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